Kamila Czepula

JOSÉ DE AQUINO, O BRASILEIRO QUE ESCREVEU A PRIMEIRA HISTÓRIA DE MACAU

 

José de Aquino Guimarães e Freitas (1780-1835?) foi uma dessas figuras históricas que caracterizavam o império português como um mundo em movimento (Russell-Wood, 2016, p. 93-170), no qual culturas diferentes das mais distantes partes do globo circulavam e se misturavam. Nascido em Minas Gerais, Freitas transitou entre Brasil, Angola, Macau e Portugal, tornando-se um rico observador dessas realidades. Ele fazia parte de um grupo significativo de brasileiros que passaram pelo Extremo Oriente entre os séculos 16 ao 19, por vezes ocupando funções de relevo, como destacado no trabalho de Carlos Moura (2014, p.37). 

Após sua formação militar no Brasil, e tendo servido algum tempo em Angola, Freitas fora designado para o batalhão de Macau, aportando na cidade em 1815, como informa António Marques Pereira: “Chegou (o coronel José de Aquino) a Macau pelos anos de 1815, e serviu no batalhão do príncipe regente, sob as ordens do brigadeiro Francisco de Mello da Gama Araújo, que mais tarde foi governador de Diu” (Pereira, 1868, p.34).

Freitas aportou numa época conturbada para Macau. Poucos anos antes, a cidade fora ameaçada pela ocupação britânica em 1808, a pretexto de protegê-la contra as forças napoleônicas. Nesse cenário complexo, foi a habilidade dos portugueses em jogar chineses contra ingleses que terminou por salvar a cidade, fazendo com que os segundos fossem embora pacificamente naquele momento (Wakeman, 2004, p. 27-34). Era de entendimento geral entre os lusitanos que a Inglaterra desejava absorver Macau, ou fazê-la servir aos seus propósitos; e não tendo conseguido, os britânicos voltariam anos depois para tomar Hong Kong à força e criar seus próprios entrepostos.

Contudo, a sobrevivência de Macau continuava em risco. Esquadras piratas ameaçavam as cidades costeiras e o comércio local, minando tanto o poder imperial Manchu quanto a influência portuguesa na região do Sul da China. Teria sido a ação determinada de outro brasileiro, Lucas José de Alvarenga (1768-1831) - governador da cidade entre 1809-1810 – que afastou o perigo da poderosa frota de Zheng Shi (em cantonês, Chiang shi ou Cheng I Sao), pirata-mulher que comandara mais de trezentos navios, trinta mil marinheiros e que impôs o terror aos mares chineses, tendo desafiado a dinastia Qing, os ingleses e os portugueses. Após a indecisa batalha da Boca do Tigre – que Lucas conta como uma vitória acachapante dos portugueses em suas memórias (publicada em 1828) – os piratas aceitaram um acordo de paz, e Zheng Shi se tornaria uma rica e sossegada dona de Cassino em Macau. Mesmo assim, a passagem de Alvarenga pela cidade foi desdenhada pelos políticos da cidade, que buscaram minimizar sua atuação. Nessa situação confusa e difícil, em que o conflito de poderes e prestígio estava evidente, Alvarenga tornara-se adversário do então Ouvidor da justiça, Miguel de Arriaga, sofrendo com as intrigas promovidas por ele e pela elite macaense.

Embora se colocasse como súdito do império português, José de Aquino Guimarães e Freitas era, de uma forma ou de outra, reconhecido como “brasileiro” – e o próprio faria questão de frisar, em seus escritos, que nascera em Minas Gerais. Esse modesto oficial pisava em um terreno delicado, numa sociedade em que as redes pessoais foram elaboradas ao longo de muitos anos de convivência e proximidade. Pode-se dizer que era um “estranho” para os macaenses; mas em face das especificidades de Macau, Freitas também não deixava de ser um luso-brasileiro para os chineses, o que lhe proporcionava uma posição bastante específica como observador da realidade cultural circundante.

Não podemos precisar se foi por uma motivação estratégica, por uma admiração sincera, ou se simplesmente Freitas era um áulico e bajulador, em todo caso, ele se tornou um apoiador destacado de Miguel de Arriaga. Obviamente, a sobrevivência de Macau dependia de um cuidadoso equilíbrio nas relações com a dinastia Qing (e naquele momento, com os ingleses também) mas sejam quais forem as críticas à atuação do Ouvidor, não dava para negar que ele fora bem sucedido em lidar com as principais questões envolvendo a soberania da colônia portuguesa. Portanto, se Freitas desejava subir na vida, era uma opção inteligente apoiar Arriaga, evitando se indispor com ele, como fizera Alvarenga. 

Russell-Wood comenta que era uma prática comum entre os servidores da coroa atuar nas colônias em busca de promoção, visando um cargo mais relevante na administração imperial ou mesmo, na metrópole portuguesa  (2016, p.100-115). José de Aquino Guimarães e Freitas foi bem sucedido em conduzir-se de maneira discreta e harmonizada com os interesses dos Macaenses. Segundo Marques Pereira,

“Recebida em Macau, em 1822, a notícia do regresso de D. João VI a Portugal, o governador e capitão geral desta cidade, que então era José Osório de Castro Cabral e Albuquerque, nomeou o coronel José de Aquino Guimarães e Freitas para passar a Lisboa com a comissão de felicitar a sua majestade e sua real família pela sua feliz chegada a seu país natal, e ao soberano congresso pela sua instalação e progressivo empenho pelo bem nacional, devendo ao mesmo tempo dar conta da «maneira satisfatória com que se tinha recebido e solenizado em Macau o novo sistema constitucional.» A esta nomeação se uniu o leal senado, conferindo a José de Aquino os poderes de seu deputado (Pereira, 1868, p.34)”.

A honra de representar Macau em Lisboa significava, também, ascender ao contexto da metrópole, e enturmar-se com a elite governante do império. Freitas soube construir sua carreira, e retornando a Portugal em 1825, conseguiu enfim alcançar o posto de governador de Coimbra, ficando em Portugal até sua morte provável em 1835. Notavelmente, seus escritos foram todos produzidos depois da independência do Brasil em 1822, criando uma situação peculiar: ele optara por permanecer no Reino de Portugal, mas continuava a se expressar como um “nascido no Brasil”, denotando uma posição específica de discurso. Na época, a afirmação da autonomia política brasileira ainda demoraria a se consolidar, como evidencia o próprio trânsito de Pedro I entre Brasil e Portugal. É possível, pois, que o tato que conduzira Freitas até Macau e Coimbra continuasse a atuar em uma forma de expressão propositadamente ambígua, permitindo seu deslocamento dentro do panorama político.

Em 1824, Miguel de Arriaga faleceu, e Freitas prestou tributo ao finado protetor de Macau em seu Ellogio do Senhor Miguel de Arriaga Brum da Silveira (1826), defendendo sua administração da cidade como exemplar, entremeada por dificuldades acerbas que revelavam o caráter excepcional do Ouvidor. Contudo, Freitas notara que sua experiência na colônia asiática poderia proporcionar mais do que apenas uma elegia biográfica. Um exame das produções históricas portuguesas mostrava que, embora os mesmos estivessem na China desde o século 16, nenhum estudo específico sobre Macau havia sido publicado. Essa consideração literária era, no mínimo, surpreendente. António Aresta (1997, p.9-18) nos mostra que embora Macau fosse o centro de uma possível sinologia portuguesa, seus próprios agentes demoraram a se dar conta das especificidades culturais da posição macaense. José de Aquino Guimarães e Freitas percebera, assim, que a história de Macau ainda estava para ser contada; e decide publicar uma recolha de suas experiências, intitulada Memória sobre Macao, que seria o primeiro trabalho historiográfico sobre a cidade.

A obra Memória sobre Macao é, antes de tudo, uma obra voltada para entender o papel do império português e sua dinâmica na Ásia. Curiosamente, ele foi publicado em 1828, mesmo ano que Alvarenga publica a sua Memória... no Rio de Janeiro. Os capítulos do livro de Freitas são sucintos. O primeiro, por exemplo, informa tão somente as coordenadas geográficas da cidade. Seguem-se nos outros capítulos informações sobre topografia, solo, rios, mar, quantitativos populacionais, e descrições bem peculiares, em que destaca as construções europeias:

“A Cidade está montada sobre um terreno montanhoso, circunstância, que lhe outorga uma fisionomia pitoresca e aprazível. Quando encarada da sua vasta enseada, a forma de anfiteatro, que exibe, onde por entre edifícios, pintados de branco, frondejam árvores majestosas, consola o viajor, que a demanda, e que até então só tem descoberto a monotonia lúgubre vista das Costas do Catay; em nenhuma parte do Mundo, proporção atendida, há tão grande número de Templos e Conventos.  A Igreja de São Paulo merece e prende a atenção do não indiferente viajor: é produção Jesuítica, bem como tudo o que há ali de notável, ainda que, como acontece em toda a parte, aonde chegou o espírito criador daquela Sociedade” (Freitas, 1828, p. 12).

A partir do capítulo 13, o autor analisa o perfil étnico, cultural e religioso da cidade, delineando uma investigação mais profunda sobre Macau. As descrições sobre os perfis físicos e morais de portugueses, macaenses e chineses permeiam algumas linhas consideráveis da obra. É interessante notar como Freitas descreve os chineses, segundo ele: 

“Há boas e más feições, bem como em toda a parte; mas geralmente falando, o macaense é espirituoso, sóbrio, ortodoxo, e, conseguintemente, ótimo cidadão. — A terceira classe (os chineses) conserva ainda bastantes ressaibos do caráter moral Sinico, o que perfeitamente se compagina com o físico. A instrução em todas ainda é menos que medíocre, por falta de escolas. Ser-me-ia fácil citar exceções; mas elas não servem senão de confirmar a regra (p.16); Quanto ao moral: — O Chim é laborioso e sóbrio; não lhe deu a natureza grande propensão para as ciências; mas toda a aptidão para as Artes e Comércio, não obstante ser desprezado este interessante veículo da prosperidade publica pelas suas tão gabadas Instituições Políticas. Jamais se desvia do respeito filial (respeito, ou antes adoração, que por morte do pai passa incólume para o filho mais velho); mas não deixa de ser orgulhoso, ainda que dissimulado e condescendente: cruel em a prosperidade, e não menos pusilânime, quando desgraçado, desprezando soberanamente os Estrangeiros, seus usos e costumes, que, não sei até que ponto com razão, apelida bárbaros... O seu deus mais acatado é o interesse, a quem sacrifica tudo. (Nesta qualidade emula admiravelmente os Povos, que dizemos civilizados). Assim é que só deixa de furtar, quando cessa de existir. Debaixo de um exterior grave, e em excesso polido, encobre bastantes vícios. Salvem-se as aparências! — parece ser a voz geral do Império. É porém certo que tem eco em quase todos os ângulos do Mundo” (Freitas, 1828, p. 18).

Dois elementos são notáveis nessa descrição: o primeiro, de como ela contrasta antagonicamente com o fenômeno da Chinoiserie - o fascínio europeu pela cultura chinesa, que atravessou o século 18 -, indo em franca oposição às descrições favoráveis da China feitas pelos iluministas franceses, tais como Voltaire. Freitas se revela uma manifestação personalizada do orientalismo europeu denunciado por Edward Said (1998), cuja vertente portuguesa, porém, guarda as especificidades derivadas da construção de um império multiétnico e referto de hibridismos (Hespanha, 1999, p.15-40). Mesmo assim, esse orientalismo é eivado de prejulgamentos em relação aos asiáticos, e o trabalho do autor estava conectado a essa tendência. A segunda colocação importante acerca desses apontamentos é a herança, pois a repetição dessas ideias que colocavam o ‘outro’ como diferente, logo inferior, influenciariam profundamente o imaginário da sociedade portuguesa e brasileira. Tanto, que após cinquenta anos, nos debates a respeito da possibilidade de contratar trabalhadores chineses para o Brasil, veremos alguns intelectuais descreverem os chineses do mesmo modo, mostrando aversão sem nenhuma reflexão mais apurada em torno da cultura daquela sociedade e de seus processos históricos.

José de Aquino Guimarães e Freitas continua a contar um pouco sobre o estabelecimento de Macau e suas instituições, descrevendo sucintamente como funcionava a fórmula de convivência entre lusos, macaenses e chineses, suas dificuldades e restrições (p.19-40). Reproduzindo um discurso de seu mentor, o Ouvidor Arriaga,

“Gozamos, é verdade, privilégios singulares e exclusivos neste Estabelecimento; mas alguém não vê as restrições por que passamos, e quanto a posse do local em nossas mãos causa zelo entre os Chins, por nos considerarem não só introdutores de artigos de contrabando, mas da Santa Doutrina, que até hoje não deixam de perseguir? Que outra Nação tem Empregados nos Tribunais de Pequim? E por ventura temos com eles alguma comunicação, que não seja oficialmente entregue ao Expediente dos Mandarins, ou eles ali, aonde alcançamos Casas e Igrejas, gozam outra liberdade, que a de viver no seu demarcado recinto, donde unicamente saem a exercer os seus Empregos Políticos, apenas clandestina e mui cautamente subministrando o Pasto Espiritual aos sempre vigiados Cristãos? O Governo Imperial não ignora, o que ali nos leva a Missão, e que o título de Matemática é pretexto; mas tal é o aferro a seus usos, que uma semelhante inconsequência não se torna reparável” (Freitas, 1828, p.28).

Fica evidente, é importante destacarmos, como a atuação dos portugueses nesse período em Macau era uma concessão, eles não eram os ditadores dos comandos e das ordens, mas souberam negociar e criar aberturas de transações nunca antes alcançadas por outros estrangeiros em território chinês. Segundo Cheong (1997, p. 83-88), isso só foi possível, porque os dois lados tinham a ganhar, e por conta dos portugueses em nenhum momento se imporem, muito pelo contrário, respeitaram as restrições e os limites traçados pelo governo chinês, e como forma de barganhar mais privilégios e o respeito dos chineses, algumas vezes iam além das suas obrigações, como ocorreu quando ajudaram militarmente a controlar o motim de 1564.  

Sobre essas restrições, Freitas acrescenta: “Prossegue o benemérito orador desenvolvendo todo o sistema restritivo, a que os Chins sujeitam os Estrangeiros, em vários outros exemplos; e eu terminarei este de sobra longo artigo, dizendo, que o Estabelecimento de Macau paga anualmente feudo ao Imperador Celestial” (Freitas, 1828, p.40).

Sua reflexão final sobre o papel de Macau no império português e na rede de comércio mundial mostra uma lucidez incrível, revelando uma consciência abrangente sobre os problemas que a colônia enfrentava, bem como o advento da questão do ópio – que levaria, uma década depois, a primeira Guerra do Ópio (1839-42) e a uma modificação profunda do panorama asiático. Freitas dedica um capítulo inteiro a questão (p.73-77), percebendo com clareza que num futuro próximo isso iria repercutir diretamente no futuro de Macau. Como vimos, o autor faleceu apenas quatro anos antes de ver seus temores confirmados.

Após uma série de notas, que fecham a primeira parte do livro (contendo igualmente outro elogio a Arriaga e sua administração), Freitas passa à análise da questão das possessões portuguesas na Ásia. Como é comum em trabalhos da época, ele tenta fazer um diagnóstico dos problemas enfrentados pelas colônias (p.58-63), e aponta uma possível solução: a criação de uma companhia, aos moldes das Companhias Inglesa e Holandesa (p.64-72). Um detalhe importante é o reincidente discurso de abandono e decadência que afetava as colônias do império português, como podemos observar no seguinte fragmento: “Em Macau o melhor mercado, assim para a venda das produções d'África, como para a compra das da China: especulações com o Brasil, e no mercado geral da Europa, etc., etc. Isto não é uma utopia... Idéias geográficas, de mistura com as do comércio da Ásia, mostram, sob a mais clara evidência, a verdade do que apenas indicamos n’este opúsculo. Assim pudesse ele sugerir melhores Instituições para os nossos desgraçados Domínios, restaurando um comércio, que tanto pode influir na prosperidade da Metrópole. Porém, quando mesmo nada d'isto apareça, nós não julgaremos perdido o tempo, que empregamos nesta tarefa” (Freitas, 1828, p.84).

A repetição desse discurso se transformará numa condição histórica. Manuela Ramos afirma que se trata do “Muro das Lamentações” da Sinologia Macaense, que busca infindavelmente explicar os insucessos contínuos da experiência portuguesa na China (Ramos, 2001, p.37).

Memória sobre Macao foi, enfim, o primeiro livro sobre a história de Macau a ser feito. No entanto, ele demorou a ser notado pelo público português. Como Sousa (2007, p.620-1) nos informa, o trabalho de Freitas foi totalmente eclipsado pelo trabalho do historiador sueco Anders Ljungsted, publicado em 1836, e que foi divulgado como a “primeira história de Macau e dos portugueses na China”. Apenas em um período recente sua obra foi retomada, recuperando uma primazia importante na literatura lusófona. Aparentemente, a prática de demonstrar erudição ignorando os pares lusófonos tornou-se também uma negativa tradição em Portugal, Macau e Brasil.

José de Aquino Guimarães e Freitas foi tenente para Macau, e de lá saiu Coronel; conseguiu alçar o posto que desejava na antiga metrópole, e viu seu país de nascença tornar-se independente. Seu olhar percuciente atentou a necessidade de dar notícia sobre a distante colônia asiática, em que se misturavam integrantes de todo o mundo articulado pelo império português. Memória sobre Macao foi importante para fazer Portugal acordar para as premências de sua antiga possessão, mesmo que depois o livro tenha sido suplantado pelo trabalho de Ljungstedt, entre outros autores. O mais importante de tudo, porém, estava em como ele revelou o rico trânsito de pessoas que conectava Ásia, América, Europa e África. Freitas engendrou a análise que consubstanciava o projeto português, cujo trânsito interno mudava a face das culturas locais. Gilberto Freyre (2003) afirmou que não seria possível entender o Brasil sem as vastas influências orientais que estavam aqui presentes. Muitos antes disso, José de Aquino Guimarães e Freitas, o mineiro que escreveu a primeira história de Macau, já estava ciente de que um mundo novo se avizinhava, e era urgente estar pronto para ele.

Referências

Kamila Czepula é doutoranda do programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e bolsista FAPERJ ALUNA NOTA 10.

ALVARENGA, Lucas José de. Memória sobre a expedição do governo de Macao em 1809, e 1810 em soccorro ao império da china contra os insurgentes piratas chinezes, principiada, e concluída em seiz mezes pelo governador, e capitão geral daquella cidade, Lucas José d’Alvarenga, authenticada com documentos justificativos. Rio de Janeiro: Typographia Imperial, e Nacional, 1828a.

ALVARENGA, Lucas José de. Artigo addicional à memória. Rio de Janeiro: Typographia do diário, 1828b.

ARESTA, António. “Sinologia portuguesa: um breve esboço”. Revista de cultura, n.32, II série, Julho/Setembro, 1997, p. 9-18.

CHEONG, Fok Kai. Estudos sobre a instalação dos portugueses em Macau. Lisboa: Gradiva, 1997.

FREITAS, José de Aquino Guimarães e. Elogio do sr. Miguel de Arriaga Brum da Silveira. Lisboa: Imp. de António Rodrigues Galhardo, 1826.

FREITAS, José de Aquino Guimarães e. Memória sobre Macao. Coimbra: Real Imprensa de Coimbra, 1828.

FREYRE, Gilberto. China tropical: e outros escritos sobre a influência do Oriente na cultura luso-brasileira. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2003.

HESPANHA, António Manuel. “O Orientalismo em Portugal (séculos XVI-XX)” in O Orientalismo em Portugal. Organizado pela Comissão Nacional para as comemorações dos descobrimentos portugueses. Porto: Câmara Municipal do Porto/INAPA, 1999, p.15-41.

LJUNGSTEDT, Anders — A Historical sketch of the Portuguese settlements in China and of Roman Catholic Churches and Missions in China. Boston: James Munroe, 1836.

MOURA, Carlos Francisco. Brasileiros nos Extremos Orientais do Império. Lisboa: Instituto Internacional de Macau/Rio de Janeiro: Real Gabinete Português de Leitura, 2014.

PEREIRA, António Marques. Ephemerides commemorativas da historia de Macau e das relações da China com os povos christãos. Macau: Typographia de José da Silva, 1868.

RAMOS, Manuela. António Feijó e Camilo Pessanha no Panorama do Orientalismo Português. Lisboa: Fundação Oriente, 2001.

RUSSELL-WOOD, A. J. Um mundo em movimento. Os portugueses na África, Ásia e América (1415-1808). Lisboa: Difel Editora, 2016.

SAID, Edward. Orientalismo: a invenção do Oriente pelo Ocidente. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 1998.

SOUSA, Ivo Carneiro de. “Um autor e uma obra para a memória da presença colonial portuguesa em Macau e no mundo asiático: A “Memória sobre Macao” de José de Aquino Guimarães e Freitas (1828)” in Administração n.º 76, vol. XX, 2007-2.º, p.619-645.

WAKEMAN, Frederic. “Drury's occupation of Macau and China's response to early modern imperialism” in East Asian History, n.28, dezembro de 2004.

10 comentários:

  1. Olá Kamila, tudo bem?

    Quero parabenizá-la pelo trabalho apresentado que me ajudou a perceber a presença de distintos olhares acerca da atuação portuguesa em seu processo de colonização no mundo. Deixo as seguintes questões que me ocorreram a partir da leitura do seu texto:

    1) Conforme foi possível depreender do referido texto, a colonização portuguesa em Macau se deu não por imposição como no Brasil e na África, mas sobretudo por concessão do Império Chinês. Neste sentido, de que modo a obra de José de Aquino Guimarães e Freitas nos situa em relação às concessões e acordos estabelecidos pela China?

    2) Dada a realidade multicultural de Macau, quem eram os considerados "macaenses" no contexto de José Aquino?

    3) Você considera que a perspectiva historiográfica de José Aquino está mais próxima ou afastada da visão eurocêntrica?

    Desde já agradeço a atenção e desejo muito sucesso em sua jornada acadêmica.

    Abraços!

    Talyta Roberta Souza Guimarães

    ResponderExcluir
  2. Olá, Talyta!

    Imensamente grata pelo elogio e pelas ótimas perguntas! =D

    A obra de José de Aquino nos fornece informações bem interessantes sobre essa concessão (que ele coloca como privilégio) e as negociações entre o governo Imperial e os portugueses, e de como elas não eram tão fáceis assim para estes últimos. Ele cita como era vedado, por exemplo, aumentarem as construções sem autorização do governo Imperial chinês, bem como o número dos soldados residentes em Macau; as posições e a quantidade de canhões também eram monitoradas, dentre outros exemplos.

    José de Aquino não explicita, mas como ele fez questão de separar os chins dos macaenses, acredito que a categorização que ele faz de macaenses se restrinja aos que nasceram em Macau.

    Sem sobras de duvidas José de Aquino se aproxima muito mais da visão eurocêntrica, essa questão fica muito clara ao longo do seu texto quando ele manifesta sua opinião, por exemplo, as construções que ele destaca como as mais bonitas e exuberantes em Macau são as construídas pelos portugueses, que seriam esses os responsáveis pelo avanço, por instaurar a fé cristã, em contrapartida deprecia os chineses e sua Cultura. Mas essa visão sobre a China em específico não seria algo majoritário entre os brasileiros no século 19, Salvador de Mendonça e Henrique Lisboa desenvolveram análise muito próprias com argumentos críticos que conseguiam escapar desse viés eurocentrista.

    Um abraço,
    Kamila Czepula

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada pelos ótimos esclarecimentos, Kamila.
      Abraços!
      Talyta Roberta Souza Guimarães

      Excluir
    2. Talyta,

      Eu que agradeço! =D

      Um forte abraço,
      Kamila

      Excluir
  3. Professora Kamila,
    existiam pessoas de Macau que viajavam pro Brasil também? tem documento disso?
    obrigada, Everton Marques Coelho

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Everton!

      Interessante pergunta. =D

      Existia sim, no livro “Chineses e chá no Brasil no início do século XIX”, Carlos Francisco Moura em uma pesquisa pioneira, demonstra como o Ouvidor de Macau, Miguel de Arriaga Brum foi importante para que houvesse o início desse trânsito de pessoas entre Macau e o Brasil, já que foi o responsável pelo envio de chineses peritos na fabricação de louças, como carpinteiros navais para trabalhar no porto da Bahia. A documentação sobre esses chineses que vieram de Macau, bem como os demais que trabalharam nas plantações de chá no jardim Botânico estão na Biblioteca Nacional, no Arquivo Nacional e no Arquivo Histórico Ultramarino (Portugal). Temos que destacar ainda, como esse ir e vir nem sempre tinha um controle (registro), por exemplo, a história de João chim, um chinês que migrou para o Peru, veio para o Brasil e embarcou com a missão brasileira para China na função de cozinheiro, só nos foi possível saber porque Henrique Lisboa (secretário da missão) esbarrou com ele, e relatou essa história em sua obra “A China e os chins”. Então, é possível que muitos outros Joãos, Pedros, Joaquins chins tenham circulado por aqui, mas por conta da falta de registros desconhecemos por completo.

      Saudações cordiais com meus votos de saúde e paz,
      Kamila Czepula

      Excluir
  4. Felicito a autora Kamila Czepula, pela pesquisa intitulada “José de Aquino, o brasileiro que escreveu a primeira História de Macau”, na qual é relatado que José de Aquino Guimarães e Freitas (1780-1835?) foi uma dessas figuras históricas que caracterizavam o império português como um mundo em movimento (Russell-Wood, 2016, p. 93-170), no qual culturas diferentes das mais distantes partes do globo circulavam e se misturavam. Nascido em Minas Gerais, Freitas transitou entre Brasil, Angola, Macau e Portugal, tornando-se um rico observador dessas realidades. Ele fazia parte de um grupo significativo de brasileiros que passaram pelo Extremo Oriente entre os séculos 16 ao 19, por vezes ocupando funções de relevo, como destacado no trabalho de Carlos Moura (2014, p.37). Assina Francielcio Silva da Costa.

    O que José de Aquino observou ao chegar a Macau?

    Qual a relevância da obra Memória sobre Macao para este estudo?

    Por que José de Aquino visitou Macau?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Francielcio!

      Na verdade José de Aquino foi a Macau a trabalho, conforme exemplificado no texto.
      A obra de Aquino é fundamental, já que é o primeiro a escrever uma história propriamente dita de Macau, e seu olhar principalmente no quesito cultural, hibridização, e das relações portugueses - chins é importante para entender todo esse processo sociocultural e político que permeavam aquela região naquele período.

      Saudações cordiais com meus votos de saúde e paz,
      Kamila Czepula

      Excluir
  5. Professora Czepula,
    Muito interessante o artigo. Onde você poderia dizer qual a relação entre José de Aquino e Lucas José de Alvarenga? Sendo que se conheciam, e atuaram juntos em algum momento?
    saudações cordiais e votos de saúde e paiz,
    Maicon Benevides Albuquerque

    ResponderExcluir
  6. Olá, Maicon!

    Imensamente grata pelo elogio e pela pergunta.
    Lucas e José de Aquino estiveram em Macau em períodos distintos, Lucas entre 1809 -1810, e José de Aquino por volta de 1820 a 1825, desse modo, não teria como terem se encontrado em Macau. Também não temos nenhuma fonte - até o momento - que possa comprovar que os dois tenham se conhecido. Contudo, a julgar pelos intensos trânsitos de ambos, a possibilidade de terem ao menos trocado cumprimentos em um evento oficial é viável, mas precisaria de uma pesquisa intensa para comprovar ou não tal hipótese.

    Saudações cordiais com meus votos de saúde e paz,
    Kamila

    ResponderExcluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.