BENTO DE GOES: UM JESUÍTA PORTUGUÊS NA DEMANDA DO CATAIO (1602-1607)
Nosso objetivo é percorrer o itinerário do jesuíta português Bento de Goes e sua caravana, desde 1602 a 1607, partindo do Império do Grão Mogol e chegando à muralha da China, através dos territórios dos afegãos, tadjiques, quirguizes e uigures. Mas esse empreendimento é demasiado amplo e precisou ser repartido em pelo menos três etapas: esta aqui exposta dá atenção ao primeiro trecho (nas terras do Grão Mogol), e ao final (na China), e uma explicação limitada do percurso pela Ásia Central; este será, mais tarde, objeto da segunda etapa da pesquisa, e a terceira será sobre os jesuítas no Tibete.
A identificação dos
povoados e cidades por onde a caravana passou é difícil: alguns são tão
pequenos que não aparecem nos mapas comuns; outros, que tinham alguma
visibilidade, diminuíram e perderam população, até quase desaparecer; a maior
parte mudou de nome, ou, não havendo uma ortografia constante, pela mudança de
idiomas devido a invasões e migrações, se alterou a grafia do nome de tal modo
que é duvidoso que o nome indicado num mapa corresponda ao de outro. Outras
vezes o nome mudou, mas a cidade é a mesma, sem que disso possamos ter a
certeza. Há, porém, descrições de viajantes dos séculos XVIII e XIX, como Wood
e Wessels, que conseguiram identificar alguns locais, e propuseram a relação
entre os nomes, que a edição portuguesa de Neves Águas e o correspondente mapa
de Diniz transcrevem. Mas essas identificações não são acompanhadas de
descrições do povoamento e sua história, o que torna tais identificações poucos
úteis para contribuir para a História da Ásia. Por outro lado, dispomos de
mapas e atlas dos séculos XVIII e XIX, que assinalam muitos nomes de povos e
cidades e reinos nas regiões da Ásia Central, mas, quando conseguimos identificar
alguns desses nomes, reparamos que eles parecem colocados ao acaso,
distribuídos e misturados sem corresponder à realidade geográfica. De fato,
como disse o próprio Bento de Goes: “andamos por terras onde éramos gente
desconhecida e nunca vista” – e, portanto, tal como os locais nunca tinham
visto europeus, também os ocidentais não sabiam nada dessas terras, ou muito
pouco.
Os
Jesuítas, a China e o Grão Mogor
Em 1540 o Papa Paulo III
autorizou a criação da Companhia de Jesus; o fundador dessa ordem religiosa foi
Inácio de Loyola, basco de nação. O rei de Portugal, Dom João III, pediu ao
Papa missionários para o Oriente, e o Papa enviou Francisco Xavier (1506-1552),
de Navarra, companheiro de primeira hora de Inácio de Loyola. Francisco chegou
a Goa em 6 de maio de 1542, percorreu todo o litoral da Índia e Sudeste
asiático, pregando e batizando, até chegar ao Japão, morrendo de febre na ilha
de Sanchuan, às portas da China, em 3 de dezembro de 1552. Começava a missão
dos jesuítas no Extremo Oriente, sob proteção dos portugueses. Em 1556 o
imperador da China cedeu aos comerciantes portugueses a península de Macau,
como agradecimento por terem combatido os piratas. Na Cidade do Santo Nome de
Deus de Macau desembarcou o jesuíta italiano Mateo Ricci em 1582; foi admitido
na Corte Imperial, onde morreu em 1610. Ricci identificou Cataio com a China e
Cambalu com Pequim. Na Índia tiveram os jesuítas especial apoio dos imperadores
mogóis, pelo que vamos nos deter um pouco nesse tema. Mogor, Mogol, Mughal, ou
Grão Mogor é o título da dinastia de origem turco-mongol que governou um
império, com sede no norte da Índia, de 1526 a 1857. Foi fundada por Babar
(Babur, 1483 - 1530), de nação uzbeque, descendente de Gengis Khan, mongol
(c.1158-1227), e de Tamerlão, turco-mongol (c.1336-1405). O mais importante e
conhecido imperador mogor foi Acbar (Jalal ud-Din Muhammad Akbar, 1542-1605).
Seu pai, Humayun, morreu em 1556, pelo que o governo foi entregue a um regente;
Acbar passou a governar sozinho em 1560: estendeu o império para oeste até à
Caxemira, e para leste até à planície do Ganges, e Bengala. Em 1565 o imperador
mandou construir sua capital, Agra, junto ao rio Yamuna, mas também residia por
vezes em Deli e Lahore, ou Laore, hoje Lähaur, capital do Penjabe, ou Punjab,
junto ao rio Ravi. Ele se mostrou um governante diligente: mandou construir
estradas, estabeleceu um sistema de pesos e medidas, fez uma reforma
tributária, e foi tolerante com todas as religiões. Em 1573 Acbar entrou em
contato com os portugueses de Goa, sede do Império português nos mares da Ásia;
sempre se entendeu bem com eles, e deu boa acolhida aos jesuítas; em 1579
enviou um embaixador aos jesuítas de Goa pedindo missionários para o seu
império. O embaixador era Abdulá, e seu intérprete um armênio cristão a quem os
portugueses chamaram Domingos Pires. A 1ª missão jesuíta para o Grão Mogol não
atingiu os seus objetivos, e retornou a Goa, e o mesmo aconteceu com a segunda,
em 1591; em 1594 nova missão foi enviada, composta pelos padres Jerônimo
Xavier, Manuel Pinheiro, e o Irmão Bento de Goes, que chegaram a Lahore em 5 de
maio de 1595. Bento, muito culto e inteligente, deu-se tão bem com o imperador
que este o incluiu numa embaixada que enviou aos portugueses de Goa em 1600.
Acbar morreu em 1605, sucedendo-lhe seu filho Salim Yahangir; este morreu em
1627, e a ele sucedeu seu filho Muhammad Khurram (1592-1666) conhecido como Xá
Yahan. Foi este que, em 1630, mandou construir em Agra o Taj Mahal, em memória
de sua falecida esposa Mumtaz i Mahull; a obra foi concluída em 1648.
Atualmente Agra integra o Estado de Uttar Pradesh (visitamos Agra em 15 e 16 de
outubro de 2019).
Bento
de Goes: um açoriano na Ásia Central
Luís Gonçalves nasceu em
Vila Franca do Campo, na ilha de São Miguel, arquipélago dos Açores, em 1562.
Com vinte anos embarcou para a Índia, onde foi soldado; viveu na boemia e na
pândega, e aos 21 anos se arrependeu, e entrou na Companhia de Jesus. Saiu, e
em 1588 voltou, e adotou o nome de Bento de Goes. Embora inteligente e apto
para os estudos nunca quis ser sacerdote, e ficou sempre como irmão leigo, ou
auxiliar, e nessa qualidade foi enviado à corte de Acbar. Bento aprendeu vários
idiomas, entre eles o persa, língua franca da Ásia Central. Ao longo de sua
viagem Bento redigiu muitas anotações sobre os lugares por onde passava, mas,
quando morreu, os seus companheiros de viagem destruíram esse diário, porque
continha anotações do dinheiro que Bento lhes tinha emprestado. O que se sabe
do seu itinerário é a reconstituição dele feita pelo Padre Matteo Ricci, a
partir de vários elementos: as cartas que, durante a viagem, Bento lhe ia
escrevendo para Pequim, fragmentos do diário que se conseguiu salvar, e os
relatos do companheiro de viagem, o armênio Isaac. Em 1911 Tacchi Venturi
editou esse diário reconstituído, que está também incluído na obra de Fernão
Guerreiro – Relação anual das coisas que fizeram os Padres da
Companhia de Jesus nas suas missões (1603-1611). Por meio desse texto vamos
percorrer o itinerário do Irmão Bento de Goes SJ, por terra, desde a sede do
Império Mogol até às muralhas da China. Resumimos algumas passagens, citamos
outras por extenso, completando a identificação de alguns lugares, tentando
esclarecer e expor sua condição à época da viagem do Irmão Bento, bem como seus
antecedentes, a fim de perceber melhor a importância desta viagem.
De Deli a Cabul: Missão e preparativos
“Por cartas dos da
Companhia que residem na Corte do Mogor soube-se na Índia daquele famosíssimo
reino que os mouros chamam Cataio, cujo nome chegou antigamente ao conhecimento
dos europeus por intermédio de Marco Polo, veneziano, se bem que alguns séculos
depois tenha caído em esquecimento de tal maneira que pouco se acreditava na
sua existência. Escreviam os padres que aquele reino do Cataio se situava a
Oriente, algo mais setentrional que o dito dos Mogores. Persuadiam-se que nele
havia muitos cristãos, com os seus templos, sacerdotes e cerimónias sagradas.
Com tais notícias o Padre Nicolau Pimenta, português, Visitador da Índia
Oriental, começou a tomar-se de desejos em doutrinar aquela gente por meio dos
nossos. (...) O Visitador escolheu para esta missão um nosso irmão chamado
Bento de Goes, português, homem religioso e prudente, o qual pelo muito tempo
que tinha residido no reino dos mogóis, sabia perfeitamente a língua persa e
conhecia todos os costumes dos mouros, parecendo-lhe que estas duas coisas eram
essenciais para quem tivesse de empreender aquele caminho”. (Mateo
Ricci, cf. Trigault, apud Neves Águas 25).
O que estava em causa eram pelo menos três questões: se o reino de Cataio era a China, se lá havia cristãos, e se esses cristãos eram os que constituíam o Reino do Preste João. O termo Cataio parece derivar de Kitai, povo de origem manchu, um ramo dos tungus da Sibéria, e de Kitan, o seu reino, limítrofe com o Noroeste da China. Assim diz Neves Águas (p.19): “Cataio era um reino próximo da China, ou de uma parte dela, a que tinha dado o nome”. E os apontamentos do P. Ricci (ib. p.25) dizem o mesmo: “Parecia, pois que aquele reino, por ser confinante com o da China, lhe havia dado também seu nome”. Ou seja: Kitai, Katai, ou Cataio era a China e ao mesmo tempo não se identificava com a China. “Sabiam os nossos, por cartas do Padre Mateo Ricci escritas do Reino e Corte da China, que este reino por outro nome se chamava o Cataio, o que se veio a confirmar por várias razões.” (p.25). Mas havia dúvidas: os que viviam com os mogores diziam que o Kitai não era a China, e que lá havia cristãos; mas os jesuítas da China diziam que lá não havia cristãos, e com tudo isso o P. Nicolau Pimenta resolveu averiguar a questão, enviando Bento de Gois:
“O nosso Bento preparou, pois, a sua viagem desta forma: vestiu-se com trajes de mercador arménio cristão e, com nome à maneira daquela nação, se chamou “Abdula”, que significa “senhor”, e juntou-lhe o de “Isaí”, que quer dizer “cristão”. Recebeu do rei dos mogóis, chamado Acbar, amigo dos da Companhia e principalmente do próprio Bento, diversas cartas para vários príncipes; e assim foi tomado por arménio, a quem se concede passagem livre, a qual se lhe proibiria se fosse tido por espanhol. Levou consigo várias mercadorias, tanto para sua manutenção, vendendo-as, como para que o tomassem por mercador. Muitas dessas mercadorias eram da Índia e do reino do Mogor, custeando as despesas o vice-rei, e ajudando a elas o próprio Acbar” (ib 26).
Faziam parte do grupo de Bento
de Goes: um sacerdote grego de nome Leo Griman, um mercador arménio chamado
Demétrio, e quatro criados de outras nações, mas cristãos. Estes deixaram Bento
em Laore, e em troca recebeu o que lhe foi mais fiel, o arménio Isaac. “Partiu,
pois, o nosso irmão de onde estava o seu superior a 6 de Janeiro de 1603(...)”.
O disfarce de arménio, e a convivência com comerciantes arménios, era muito
conveniente: os arménios desde longa data eram conhecidos em toda a Ásia como
mercadores, falavam diversas línguas, e eram cristãos.
Em
terras do Grão Mogol
A caravana anual saía de
Laore para Cascar (Kashgar), e tinha que ir preparada não só para uma longa
viagem, para as dificuldades do mau caminho, e para o convívio, mas também para
enfrentar muitos e perigosos ladrões e assaltantes; além de tudo isso passava
por povos de línguas diferentes, e precisava de levar intérpretes – mesmo que
muitos comerciantes falassem vários idiomas, e quase todos falavam persa, o
idioma mais comum do comércio na região. Em Athec, hoje Attock, no Paquistão, a
caravana atravessou o rio Indo, em barcaças, esperou uns dias porque havia
notícia da presença de muitos bandidos, e ao fim de três meses de viagem
descansou em Passaur, hoje Peshawar (pron. Pacháuâr) cidade muito antiga, de
cerca de três mil anos. Sua localização é importante, junto à passagem de Kiber
(Khyber), nos contrafortes a sul das montanhas do Hindukush, um dos locais de
maior trânsito entre Lahore e Cabul. Por ali tinham passado os exércitos de
Alexandre Magno, Tamerlão, Babar, e Gazni a caminho de conquistar o norte da
Índia. Antigamente chamada Purushapura, no século II a. D. foi a capital da
região helenística de Gandhar; a cidade é rodeada de terras férteis, o que fez
dela um entreposto de abastecimento agrícola e ponto comercial importante.
Incorporada ao império do Grão Mogor, Acbar lhe mudou o nome para Cidade de
Fronteira – Peshawar. Daí a caravana seguiu contornando o Hindu Kush, chegando
a Caferstam, ou Kafiristam, local pouco conhecido na época. O termo kafir
e a explicação que dele dá o relato de viagem mostram a razão do motivo: kafir
é o termo árabe para designar infiel, equivalente ao termo europeu “pagão”,
isto é, de religião anterior ao cristianismo, ou ao islamismo. Daí provem o
termo cafre, que os portugueses usavam para designar os pagãos
africanos, os quais já eram chamados kafir pelos árabes da África
Oriental. Não sendo muçulmanos deram vinho a provar a Bento, “e era semelhante
ao nosso. (...) Naquele lugar ficaram outros vinte dias” e, como nas estradas a
percorrer havia muitos salteadores, receberam do “senhor” uma escolta de
quatrocentos soldados, o que demonstra muita consideração da população de
Kafiristan pelos mercadores. Hoje conhecido como Nuristan, no Afeganistão, o
Kafiristan foi certamente um lugar diferente de tudo o que o missionário já
tinha visto e ouvido falar, e não era sem razão, pois tratava-se de uma
população fechada, etnicamente distinta – embora de origem indo-europeia – e
que, ao contrário dos seus vizinhos muçulmanos, se mantiveram na religião
tradicional, até ao final do século XIX. Viviam em grupos separados, em vales
férteis e provavelmente autossuficientes, e falavam dialetos diferentes uns dos
outros (Columbia). Segundo o relato do Padre Ricci a caravana viajou vinte e
cinco dias até chegar a “outro lugar chamado Ghideli”, que na Relação de
Fernão Guerreiro é chamada Zedeli (pp. 27 e 56); a nota 21 de Neves Águas
identifica o lugar como Iagdalac; mas, no mapa que o mesmo autor/editor inclui
como itinerário de Bento de Goes (p. 42-43), nessa localização, ou seja, entre
Peshawar e Cabul, está assinalada a cidade de Jelalabad/Jalalabad cidade
antiga, citada como centro importante da região greco-indiana de Ghandara;
aquando da passagem de Bento de Goes pertencia ao império mogol, e hoje é
capital da província de Nangashar, no Afeganistão. Fugindo dos ataques dos
salteadores a caravana prosseguiu, e chegou a Cabul, que, segundo o relato da
viagem, “é cidade com mercado muito frequentado, que ainda está situada nas
terras sujeitas ao Mogor” (27). Alguns membros da caravana não quiseram
prosseguir, pelo que os demais ficaram em Cabul oito meses, esperando
“reforços”. Bento aproveitou o tempo para vender mercadorias, e tão bem o fez
que emprestou quase seiscentos ducados à irmã do rei de Cascar (Kashgar), que
voltava de peregrinação a Meca e estava sem recursos. Entretanto o sacerdote
Leo Grimon e o seu companheiro Demétrio abandonaram a caravana, e Bento ficou
só com o armênio Isaac. Depois de alguns meses novos comerciantes se juntaram
ao grupo, que podia enfim retomar a viagem; passando por Charikar, ou Tcharikar,
hoje capital da província, de população de maioria tadjique, chegaram a Parvan
(ou Parwan), nos contrafortes do Hindu Kush; esta deve ter sido cidade
importante, para dar nome à província, mas Bento a define como “lugar pequeno”
e o último “do reino dos Mogores”. A caravana estava, portanto, entrando em
território menos conhecido, e onde o jesuíta já não estava protegido pelas
cartas de Acbar.
Entrando
na Ásia Central
Ao chegar às montanhas do
Hindu Kush, no norte da província de Parvan, a caravana tinha várias opções de
passagem das serras, porém o passo ou desfiladeiro de Solang é o mais
importante (hoje em dia há um túnel), e o que ficava na rota da caravana de
Bento. Em Parvan os viajantes descansaram cinco dias e começaram a subir a
cordilheira: “uns altíssimos montes de uma região chamada Aingaram” de onde
passaram a Calcia (Kachu), Gialalabath (Shirabad) que pertencia ao emirado de
Bucara ou Bucarate, Tlhan (Talachan ou
Talikhan), Chescar de Samrham (Teshkan), Burgagne; e em todo esse caminho
andavam os mercadores assustados por causa de revoltas e conflitos que por lá
tinham eclodido. Desde Parvan a Hiarcan (Iarcanda) a caravana percorreu o
território menos conhecido de todo o trajeto, em parte pelo atual Tadjikistão,
e por territórios ao norte do Tibet, hoje incorporados à China. Apesar das
garantias do governador local os rebeldes atacaram e roubaram a caravana; Bento
só perdeu um cavalo, que recuperou depois; mais adiante ele foi cercado por
ladrões, mas brincou com eles fazendo um “jogo de bola” com o turbante, e
deixaram-no ir. Seguiram por um caminho “muito mau”, que na língua local tem
esse mesmo nome de Tenghi, ou Thebgi, que quer dizer mau caminho, porque “é
apertadíssimo, e não dá passagem para mais que uma só pessoa, num altíssimo precipício
sobre um rio” (Neves Águas 29). Estavam chegando às montanhas do Pamir e ao rio
do mesmo nome. Em Badascian os moradores roubaram mercadorias; Bento perdeu
três cavalos, que recuperou com presentes. Seguiram para Ciarciunan
(Tchartchounar), onde choveu muito, e os ladrões os acometeram. Daí para
Serpanil (Sir-i-Pamir) subiram ao monte Sacrithma, e passaram em Sarcol
(Sarikol ou Sirikol). Chegaram ao monte Ciecialith (Chichiklik), com muita
neve, passaram por Tanghetar (Tangitar) e Jacorich (Jakka Arik) onde Bento, se
adiantando aos demais, entrou em Hiarcan dez meses depois de ter partido de
Lahore.
De
Iarcanda ao Cataio
Hiarcan, identificada como
Iarkand ou Jarcanda, era passagem importante da Rota da Seda. Diz o relato de
Bento: “Hiarcan é um famosíssimo mercado, tanto pela concorrência de mercadores
como pela variedade de mercadorias. Nela dá fim à sua viagem a cáfila dos de
Cabul, e daí se organiza outra ao Cataio (...)” (29). Para a China a mercadoria
de maior preço era o jade, que Bento chama jaspe, e os chineses, segundo ele,
chamam yuxe. Como a viagem era perigosa, e muitos mercadores ficavam em
Iarcanda, foi preciso esperar um ano até reunir o número suficiente de
componentes para formar a caravana. Bento de Goes aproveitou o tempo para fazer
amizades na corte, visitar o rei e dar-lhe presentes. Entretanto voltou
Demétrio, que tinha acompanhado o jesuíta no princípio da viagem. Bento ainda
aproveitou para ir a Cotan cobrar o dinheiro que tinha emprestado à irmã do rei
local. Depois de mais algumas peripécias Bento de Goes comprou dez cavalos,
preparou as mercadorias, e, “quase em meados de Novembro” de 1604, partiu para
o Cataio. A caravana passou pelos seguintes lugares, em território Uighur, hoje
província de Xinjiang, na China, e que Neves Águas identifica deste modo:
Hancialix ( Kham Chalish), Alcegher (Ac cechil), Habagateth (não sabe), Egriar
(Egri-yar), Meselelec (Mejnet ou Merket Daylie), Tallec (Talik), Horma (Curma),
Toantac (Tewan Tagh), Mingieda (Mingyedi), Capetalcol (Captar Kol), Cilan
(Chilyan), Sare Guebedal (Shah Yar), Cambalci (Kumbash), Aconterzec (Sak Sak),
Ciacor (Shakyar).Em Acsu (Aksu) o governador, de doze anos, era neto do rei; a
ele Bento deu presentes, incluindo brinquedos. Houve um baile, e o irmão Bento
foi convidado a dançar ao modo da sua terra, e ele bailou, “para não parecer
que lhe negava uma coisa tão pequena” (32). Tendo passado pelo deserto de Gobi,
foram a outras cidades: Oitograc (Oi Tograk ou Oitoghraq), Grasso e Casciani
(não identificadas), Dellai (Daulat), Saregabedal (de novo Sha Yar), Ugan (Ugan
ou Ugen), Cucia (Kutcha) lugar pequeno, mas onde havia mesquita, e onde ficaram
um mês para descanso dos cavalos, que estavam sem forças, devido ao mau
caminho, ao peso do mármore, e à falta de cevada. Daí, depois de 25 dias de
caminho, chagaram a Cialis – Kara-Shah, ou Chiglik, ou Korla. A cidade, no
reino de Kashgar, era pequena, mas bem fortificada. Em Cialis Bento foi
convidado, pelo príncipe governador, para disputar sobre a sua Lei (islamismo)
com os seus “cacizes e letrados”; Bento achou que iriam matá-lo, mas na
realidade o governador só queria discutir, porque “seus antepassados tinham
guardado aquela Lei”, isto é, a Lei de Bento, ou seja, eram cristãos. A nota a
esse respeito (nota 60) diz que já Marco Polo tinha encontrado cristãos
nestorianos no reino de Kashgar, “os quais têm próprias igrejas”. Aí ficaram
três meses, porque o chefe da caravana não queria partir, alegando que o grupo
era pequeno para se defender dos assaltantes, até que Bento decidiu-se a ir
sozinho, contra vontade dos companheiros, mas com autorização do príncipe.
Na
China: As cartas
Um motivo especial
estimulava Bento a viajar: é que entretanto voltaram a Cialis os mercadores da
caravana do ano anterior; eles tinham estado em Pequim, onde encontraram o
Padre Mateo Ricci, de quem deram novas ao irmão Bento, que com isso muito se
alegrou, e por terem confirmado que a China era o Cataio, “e dali em diante
não tiveram dúvida alguma de que o
Cataio só de nome se diferenciava da China, e de que a própria Corte, que os
mouros chamavam Cambalu, era Pequim” (34), coisa que, ao partirem da Índia,
sabiam mas da qual não tinham a certeza. Prosseguiram então o caminho, e
levando cartas de apresentação foram bem recebidos em Puchan (Patchan, ou
Pidjan), e em Turfan (Tourfan), cidade fortificada; daí para Aramuth
(Karakhoja) e Camul (Hami, ou Chamil), o último lugar do reino de Cialis, onde
ficaram um mês. Nove dias depois chegaram a Chiaicuan (Kiajiikwan), junto às
muralhas da China; aí esperaram autorização para passar a muralha, e em finais
de 1605 Bento chegou a Shoh-chow (Soceu). Todo o caminho de Cialis até às
muralhas estava devastado “com os assaltos e correrias dos tártaros”, que só
comem carne, e vivem muito tempo,” ultrapassando os cem anos”. Bento de Goes
chegou a Soceu acompanhado de Isaac, ambos de boa saúde, e rico: “trazia treze
cavalos, cinco criados a quem pagava salários, dois rapazes escravos que tinha
comprado e mármore mais precioso que todos os outros” (36). Dali Bento escreveu
ao P. Ricci, pedindo, entre outras coisas, que conseguisse para ele autorização
para sair da cidade e voltar à Índia por mar. Ao receberem as cartas dele os
jesuítas de Pequim ficaram muito contentes, mas acharam que não era
conveniente, pela etiqueta chinesa, enviar um estrangeiro para encontrar outro
estrangeiro, porque nessas questões o governo imperial era muito suscetível e
desconfiado. Enviaram, pois, João Fernandes, um criado – pelo desenrolar da
narrativa percebe-se que era um candidato a entrar na Companhia de Jesus -
“mancebo de singular prudência e virtude” que ainda não tinha entrado no
noviciado. João Fernandes recebeu do P. Mateo Ricci e dos padres Pantoje e De
Ursis cartas para o Irmão Bento de Goes. Bento esperou em Soceu durante um ano,
que foi para ele muito difícil: faltavam mantimentos, teve que vender
mercadorias abaixo do preço, viveu de empréstimos. E a ajuda demorava a chegar:
a carta do P. Ricci dizia que “João Fernandes saiu desta Corte em onze de
Dezembro do mesmo ano” e considerando que chegou a Soceu “no fim do mês de
Março de 607” o mesmo ano citado acima é o de 1606, durante o qual Bento
estava esperando por ajuda, sem poder sair da cidade, e, o que é pior, adoeceu
e ficou muito mal. Mas quando João Fernandes lá chegou, e, por indicações de
“não sei quem” encontrou o armênio Isaac, que o levou à casa onde Bento de Goes
estava, conversaram em português; ao receber as cartas dos jesuítas de Pequim
Bento ficou muito feliz e entoou o cântico evangélico: “Agora, Senhor, podeis deixar
partir o vosso servo” (Lc 2, 29), como quem diz: cumpri minha missão, posso
morrer – “porque lhe parecia que tinha cumprido o que se lhe mandara, e dado
fim à sua peregrinação” (p.38). E assim foi, pois não havendo médico na cidade,
Bento de Goes morreu onze dias depois, em 10 de abril de 1607. Os mercadores
apossaram-se de tudo o que Bento levava, e destruíram o diário de viagem. A
questão foi a tribunal, e o juiz mandou entregar a João Fernandes e a Isaac os
bens que sobraram do espólio de Bento de Goes. Conseguiram assim dinheiro para
a viagem de retorno, e a 28 de outubro de 1607 chegaram a Pequim. Foi então
que, tomando alguns documentos do Irmão Bento, as cartas, alguns pedaços do
diário de Bento que Isaac e João Fernandes recuperaram, e os relatos de Isaac,
o Padre Ricci conseguiu reconstituir a viagem de Bento de Goes.
Soceu
ou Anxi? Onde morreu o Irmão Bento de Gois?
Para nos orientar nesta
dúvida vamos partir do relato da morte do Irmão Bento. Redigido pelos jesuítas
de Pequim, e completado pela versão do P. Fernão Guerreiro, diz o seguinte: Na
parte ocidental do reino da China, voltada para o norte, ficam aquelas
celebradas muralhas. Na época tinham sido construídas fortíssimas e guarnecidas cidades, que
para sua defesa têm de presídio os soldados mais escolhidos. Com esse
reforço os chineses conseguiram conter os “tártaros” que assolavam a China com
“assaltos e correrias” (36). O relato
destaca duas cidades: Canceo (Kan-chow ou Konchow ki, na província de Xensi, ou
Kiang-si, nota 69 p.62), nesta Canceo reside o vice-rei; e Soceu, (Fernão
Guerreiro na p.57 diz Subecheo) que tem seu próprio governador. Nela residem,
além dos chineses, mercadores vindos de muitos lugares da Ásia, que obedecem a
leis locais próprias. Prossegue o relato: “Chegou o nosso Bento à cidade de
Soceu no fim do ano de 605” (35 e 57). Entretanto, enquanto esperava a
autorização para entrar na China, Bento teve que vender parte das mercadorias
que levava, “e assim sustentou durante um ano a sua casa” (37). De Pequim a Soceu
a viagem demorava quatro meses, e João Fernandes chegou a Soceu em março de
1607, encontrando o Irmão Bento já muito doente. Consolado com as cartas que
recebeu do P. Ricci e demais jesuítas Bento de Góis morreu abraçado a elas. Os mouros,
companheiros da caravana quiseram apoderar-se dos bens do falecido, conforme
usos e costumes das caravanas, mas João Fernandes impediu-os, alegando que era
sobrinho de Bento; infelizmente, porém, os ditos mouros conseguiram
pegar no diário do Irmão e o rasgaram. João Fernandes e o armênio Isaac
conseguiram salvar algumas páginas, que entregaram em Pequim para reconstituir
o relato. Quanto aos demais bens, que os companheiros queriam tomar, o caso foi
a julgamento na cidade, sendo juiz o governador militar, e o vice-rei de Canceu
teve que intervir; por fim João Fernandes e Isaac puderam voltar a Pequim com
parte dos pertences de Bento – documentos e pouco mais. Como se vê pelo relato
as informações acerca de Soceu para nos permitirem identificar a cidade não são
muitas. Soceo e Subecheo são formas de pronúncia portuguesa do nome do local em
que ele viveu seus últimos meses. Nem esse nome, nem o de Shoh-chow se
encontram em enciclopédias nem pelos motores de busca da internet. No mapa de
Diniz, da edição portuguesa dos relatos da viagem (Neves Águas 42/43), Bento
passou por Turfan e chegou à muralha da China; chegou, portanto, seguindo pelo
trecho norte da Rota da Seda, onde já estava desde que passaram o Hindu Kush –
não nomeia a Rota porque a expressão foi criada no século XIX pelo Barão de
Richthoffen. A partir de Kashgar a Rota da Seda dividia-se em três vias: a
norte, por Turfan, a sul, por Khotan (Hotan), e a média por Aksu - note-se que
os mapas da Rota da Seda são quase todos diferentes uns dos outros, mas, em
todos os mapas, fosse só uma, ou as três, sempre chegavam ao mesmo ponto na
Grande Muralha: Anxi. Alguns mapas não indicam aí nome nenhum, mas nenhum mapa
indica outro nome que não seja Anxi (Anhsi). Há mapas que indicam que a via
média e/ou a sul chegam a Dunhuang, mas são poucos. Comparando todos os mapas
antigos e recentes é evidente que o ponto de chegada da via que vinha por
Turfan até à Muralha era Anxi. Mas esse nome também não consta de obras de
referência, só nos mapas. Continuando a busca: o relato dos jesuítas diz que as
duas cidades que controlavam a passagem das caravanas pela Muralha eram Soceu e
Canceo, na província de Kiang-si. Atualmente a cidade de Anxi fica na província
de Gansu, que já foi província de fronteira. Contudo perto de Dunhuang, segundo
o guia da Folha (494-497), há duas portas ou torres, da dinastia Han,
atualmente abandonadas, mas ainda imponentes – Wood (199) mostra fotografia
feita pela expedição de Stein. Segundo o guia turístico essas torres (Wood
chama-lhes beacon, marco ou torre de observação) ficam a cerca de 80km
de Dunhuang; pelo mapa, em linha reta, são 70k até Anxi; na beira do deserto,
esta cidade era, pois, a porta de entrada da China, junto à Muralha. Constatada
a dificuldade de obter mais informações sobre Anxi consultamos a história da
China de Gernet, onde diz (tradução nossa): o Irmão português Benedict of
Goez chegou a Chiu-ch’üan em Kansu em 1605, cidade que Gernet considera
comercial e cosmopolita (I, 209). Lá ele
recebeu o chinês convertido Sebastian Fernandez em 1607 pouco antes de
sua morte (Gernet II 469). Apesar do erro no nome do enviado Fernandes, que
ainda não era jesuíta, como ele diz, o resumo está correto, donde se segue que
Chiu-ch’üan em Kansu/Gansu é Soceu, a que o mesmo Gernet (576) também chama Suchow,
ou Su-chou, no mapa; e acrescenta: “the former and presente Chiu-ch’üan”. Temos
assim que a cidade onde faleceu irmão Bento teve os seguintes nomes: Soceu,
Shoh-chow, Suchow, Chiu-ch’üan, Su-chou. Chiu-ch’üan pode ser identificada
facilmente nos mapas de Gernet a pouco mais de duzentos quilômetros a SE de
Dunhuang e de Anxi. Portanto se não há nenhuma pista para identificar Soceu com
Anxi, pelo contrário, são bem distantes, resta uma solução o Corredor de
Gansu. Esta expressão geográfica é rara, e por vezes é dita como Corredor
de Hexi, mas sua identificação é fácil. A atual Província de
Gansu/Kansu no Noroeste da China, fica entre as províncias de Qinghai e
Mongólia Interior; ela tem a forma aproximada de um osso de tíbia: larga nos
extremos e estreita no meio, que é longo. Entre a parte larga do Norte, onde
ficam Anxi e Dunhuang, e a parte larga do Sul, onde fica a capital atual da
província, Lanzhou (também grafada Lanchow e Lan chou), medeiam cerca de mil e
duzentos quilômetros; é realmente um corredor, tanto mais que se situa entre
duas cadeias de montanhas. O longo percurso é pontilhado por grande número de
cidades: Yumen, Chiu ch’üan, Jiayuguan (cidade fortificada), Jiuquan, Chang
Yeh/Zhangye, Jhandum, Wu wei, Xining...Todo o lado norte, desde Anxi até
Lanzhou está protegido do exterior pelas muralhas do período Ch’in e Ming, mas
entre Wu wei e Lanzhou as muralhas Ming formam um imenso quadrado, dentro do
qual fica a cidade, e cortado ao meio pela diagonal, também amuralhada (Gernet
102 e 422). Vamos então deter-nos nessa cidade que, só pelas muralhas, parece
ser, e ter sido, importante (Guia da Folha 479 e 484/485). É preciso ver, antes
de mais, que o Corredor de Gansu, ou de Hexi, é a primeira parte da Rota da
Seda dentro da China antiga (a incorporação ao Império de territórios a norte
fez a dita Rota começar na China mais ao Norte). De Lanzhou a Rota da Seda
seguia para seu termo final, a antiga capital Chang’an, hoje Xian. Portanto o
local principal da Rota antes de virar para a capital era Lanzhou; a cidade
fica no meio de um vale fértil e é cortada pelo Rio Huang Ho (ou Huang He, o
Rio Amarelo), mas talvez o que mais a destaca é que era um nó de uma antiga
rede intrincada de vias de comunicação; hoje essas vias se desenvolveram, e
Lanzhou está ligada por estradas e via férrea à Rússia, Mongólia, Pequim e
Tibete. Quando as caravanas chegavam a Lanzhou estavam bem dentro da China, e
protegidas, mas em Anxi estavam à mercê do que vinha do deserto: bárbaros,
assaltantes e ladrões. Por outro lado, se parassem um pouco mais adiante de
Anxi, em Chiu-ch’üan, já estariam mais protegidas e podiam esperar a
autorização de prosseguir até Lanzhou. Tudo leva a crer, pois, que Chiu-ch’üan
é Soceu e que foi nessa cidade que morreu o Irmão Bento de Goes.
Bibliografia
e referências
João Lupi é professor do Departamento de Filosofia da UFSC.
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ResponderExcluirCaro professor João Lupi em primeiro lugar parabéns pelo trabalho ,no decorrer da narração da viagem de Bento de góis há algum registro de perseguição religiosa,haja vista que muitas cidades que ele passou eram predominantemente muçulmanas? grato :Edevanilson Facundes Da Silva
ResponderExcluirCaro Edevanilson: obrigado pela sua pergunta, que me deixou perplexo porque não tinha pensado nisso de perseguições, meu objetivo por enquanto é rever e identificar o itinerário de Bento de Goes. Mas pensando no caso e revendo o relato, me parece o seguinte: em todo o território percorrido pelo Irmão jesuíta havia poucos ou nenhuns cristãos, e a maior parte da população nunca tinha visto nem ouvido falar em cristãos. Portanto se havia algo desse tipo era entre muçulmanos e fiéis de outras religiões, como no Kafiristão, atual Nuristão, do Afeganistão, onde, diz Bento, mouro (muçulmano), não entra. Para entender melhor vamos repassar as três fases do itinerário: 1º em terras do Império Mogol (Mughal): o imperador Acbar protegia todas as religiões, era extremamente tolerante. 2ª etapa: saindo do império, entrando no território do atual Tadjiquistão, encontraram comunidades cujos antepassados tinham sido cristãos, provavelmente originados por missionários sírios nestorianos, e os governantes só queriam conversar, sem nenhuma animosidade. A terceira fase, a partir de Jarcande, era Rota da Seda, de certo modo protegida contra conflitos e intolerâncias. As únicas perseguições que Bento sofreu de mouros ou muçulmanos, foi por parte de companheiros de caravana que o queriam roubar. Acho que é isso.
ResponderExcluirMuitissímo obrigado professor João Lupi pela explicação.
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