Flavia Lima Corpas

SHÀNZI WǓ 扇子舞 A DANÇA CHINESA COM LEQUES ORIGINÁRIA NA DINASTIA HAN


Introdução

Presentes em inúmeras culturas, os leques são utilizados há muito tempo pelos humanos para afastar o calor, proteger do sol, compor a indumentária ou demonstrar status social. Seu uso também aparece em ritos cerimonias e artísticos. Exemplares antigos de procedência egípcia, romana, etrusca, grega e japonesa vêm sendo descobertos em explorações desde o estabelecimento da arqueologia como ciência. Na China, com variados formatos e trabalhados sob a utilização de múltiplas opções de materiais, estes itens são encontrados em áreas de escavações datadas ainda do período neolítico. Abanadores com mais de 5000 anos foram recuperados do sítio arqueológico de Qianshanyang na província chinesa de Zhejiang (QIAN, 2004, p. 3). Exemplares fabricados com plumas, aplicações em seda e matéria-prima vegetal também datam da antiguidade.

Durante a dinastia Shang (1600 - 1046 AEC) um tipo de leque chamado shanhan era utilizado em carruagens como abrigo contra os raios solares e a chuva de forma a proteger seus passageiros. Com o passar do tempo, o objeto, que até então se assemelhava a um guarda-chuva, foi sendo modificado, tornando-se então parte da guarda imperial e item decorativo.  Entre os anos 1046 AEC e 256 AEC, durante o reinado da dinastia Zhou, os abanadores feitos de plumas tornaram-se altamente populares entre os membros da nobreza e conforme a História chinesa se desenrolava, novos tipos de leques foram surgindo com diferentes formatos e finalidades (TAGGART, 2020). Escavações arqueológicas em sítios provenientes do período Han, localizaram lápides e murais contendo referências à utilização de leques. A primeira delas ocorreu na década de 1950 da era comum na província de Shandong, quando dezesseis rochas esculpidas com desenhos em formato de leque foram encontradas em uma tumba (QIAN, 2004, p. 5). Abanos, adornos, instrumentos de cena em peças teatrais e danças, e até mesmo armas utilizadas na prática de artes marciais, estes objetos são atualmente classificados na arte chinesa em três grupos: leques cerimoniais, leques rígidos e leques dobráveis (WELCH, 2013, p. 1303). Neste texto procurar-se-á caracterizar a utilização de leques durante a dinastia Han, que se estendeu entre os anos 206 AEC e 202 EC, e o uso deste item como instrumento em práticas de dança.

 

As Danças Folclóricas e Palacianas na Dinastia Han

O valor cultural de um povo do passado, pode ser observado não só através de material arqueológico recuperado ao longo dos anos. É certo que a cultura material tem grande importância na construção da compreensão de uma sociedade antiga, porém, facetas relacionadas aos hábitos de um povo podem ser replicadas a cada geração, mantendo assim a perpetuação de algum aspecto cultural. Um excelente exemplo que permite a percepção da conservação dos traços de costumes de uma população é a sua relação com a música e a dança. Como é de se imaginar, a vasta história da cultura chinesa desde seus primórdios conta com uma variada gama de representações de dança. Conforme aponta Maribel Portinari, a dança possuía grande importância no contexto da corte chinesa imperial durante a antiguidade. Sua prática era relacionada a dois princípios básicos da cultura: Yue (a música) e Li (os ritos). Músicos e dançarinos faziam parte dos festejos palacianos e nos templos (PORTINARI, 1989, p. 43). Cada dinastia era detentora de seus próprios hinos, coreografias e melodias que eram alterados assim que uma nova linhagem ascendia ao trono. Contudo, até o presente momento é possível identificar em solo chinês práticas populares originárias em diferentes épocas. Atualmente, existem 56 grupos étnicos reconhecidos em território chinês e cada um possui seu próprio conceito acerca de danças tanto clássicas quanto folclóricas (WU, 2016, p. 2).

Durante a dinastia Han, consolidou-se um tipo de apresentação que até hoje faz-se presente representando crenças e costumes populares. Este formato, conhecido como Baixi (Os Cem Atos), conta com números de dança, acrobacias e mágica e mantem-se até a presente data, como parte da seleção de obras da Ópera de Pequim (PORTINARI, 1989, p. 44) .  Podendo ser comparadas aos atuais “shows de variedades”, estas apresentações em particular, caíram no gosto tanto da realeza quanto dos populares. No âmbito das práticas religiosas e contato com o sobrenatural, representantes dos deuses em transe, desempenhavam danças com o intuito de conjurar os mortos, curar doenças e invocar a chuva (LEWIS, 2007, p. 179).

A dinastia Han floresceu por mais de 400 anos e pode ser equiparada ao mundialmente famoso Império Romano, seja por tempo de duração, número populacional, força militar e sofisticação cultural (HARDY e KINNEY, 2005, p. 1). Pesquisadores afirmam que no ano 2 AEC, o total de habitantes já ultrapassava o número de 59 milhões de pessoas (MCLAUGHLIN, 2016, p. 527). De extrema importância para a formação da sociedade chinesa atual, a dinastia Han estabeleceu o início de império chinês altamente poderoso, que ao longo dos séculos foi marcado por períodos de união e desunião sob o comando de outras dinastias e se estendeu até o século XX da era comum. O último imperador chinês, Xuantong, da dinastia Qing, foi destronado em 1911, após o colapso do sistema imperial.  Atualmente, a maior parte da população chinesa identifica o legado da dinastia Han, como uma espécie de “marca da nação”. Artistas chineses até hoje comumente decidem por escolher estilos originários desta época para suas apresentações internacionais. Esta escolha entra em conformidade não apenas com assimilação cultural, mas também política que contribui para a formação de uma identidade chinesa (WU, 2016, p. 10).  De acordo com Zhi Dao: “a dinastia Han foi a era da prosperidade da dança chinesa” (DAO, 2019, p. 59). As práticas de dança ao longo deste período contavam com apresentações elaboradas que abarcavam múltiplas modalidades, tornando seus espetáculos riquíssimos em todos os seus estilos. Elementos da natureza eram frequentemente resgatados e representados em cena.

Durante um festival em Belfast, na Irlanda do Norte, a bailarina de origem chinesa, Wanting Wu, apresentou para o público uma coreografia com leques típica do período Han. O ato intitulado Filha do Rio Amarelo, contava a história de uma menina nascida e criada na região ribeirinha. Conforme crescia, a personagem fictícia permanecia em constante contato com as águas do rio, brincando em suas margens.  Grande parte dos espectadores presentes na plateia naquela ocasião, possuíam ascendência chinesa.  Embora fictícia, a protagonista da apresentação era capaz de personificar uma massa de indivíduos que se conectavam através de um elemento em comum:  O Rio Amarelo, foi de enorme importância para a consolidação das rotas comerciais asiáticas da antiguidade e foi considerado pelos povos da China antiga o provedor do alimento e da vida. Durante o show em questão, o rio foi representado pelos leques de seda, enquanto o figurino verde da artista fazia o papel da primavera, época de abundância do solo e propícia para o desenvolvimento da agricultura. Conforme aponta Mark Lewis: “Sob os impérios Qin e Han, o Rio Amarelo foi o coração da civilização chinesa e lar de noventa por cento da população” (LEWIS, 2007, p. 7). Contudo, o autor cita que em mais de mil e quinhentas ocasiões, ainda naquele período, enchentes do rio tenham destruído represas, vilas e terras agrícolas e devido a isso ele tenha ganhado o apelido de “Tristeza da China”.  Sobre a experiência da apresentação, Wu afirmou: “as habilidades corporais da dança chinesa criaram uma experiência alegre de pertencimento de uma comunidade chinesa associada ao orgulho de compartilhar a cultura dessa comunidade com outras pessoas” (WU, 2016, p. 10). Todos os passos desempenhados em cena no momento da apresentação artística de Wanting Wu possuíam significado. A alteração de ritmo ajudava a compor a demonstração, que seguia os modelos tradicionais da antiguidade. As coreografias e a dinâmica da dança ancestral Han têm como fundamento o intuito de evocar delicadeza e suavidade, ao mesmo tempo que transmitem a força impetuosa da natureza.

 

Os Leques e Sua Utilização na Dança Durante a Dinastia Han

Sendo praticada há mais de dois mil anos, majoritariamente por mulheres, a dança com leques Shànzi wǔ (ou dança com leques em português) procura expressar através de seus movimentos, a graça e a leveza de seus praticantes, de forma a representar os sentimentos de alegria e harmonia e a comunhão entre os seres vivos e o meio ambiente. Ainda no início de sua prática, celebrações comemoravam a caça e a pesca e comumente os dançarinos portavam estandartes produzidos em plumas que com o passar do tempo foram tomando novas formas e ganhando novas matérias-primas, como o tecido e o bambu. Penas de gansos, águias, pombos, pavões e demais aves também poderiam ser utilizadas para este fim (WELCH, 2013, p. 1301). Os leques de plumas nobres, constituídos por penas naturais de falcões, garças e cisnes eram acessíveis unicamente à elite, e na dança eram manipulados apenas por artistas em apresentações palacianas, enquanto os leques de tecido possuíam marcante presença na dança folclórica. Embora os movimentos coreográficos nesses dois tipos de práticas fossem similares, o que diferenciava uma da outra comumente eram os figurinos e adornos empregados, e no caso da dança com leques, estes eram os principais fatores de diferenciação (CHANG e FREDERIKSEN, 2016, p. 165).  Quanto mais elaborado o leque e mais rara sua matéria-prima, mais rico e influente seria seu portador.

Os abanadores feitos com vegetais, especialmente bambu ou folhas de taboa, também foram concebidos durante a dinastia Han, assim como os leques em formato de espanador produzidos com pelos de animais como veados, cavalos ou iaques. Esta última categoria era usualmente ostentada por homens de altas classes sociais como um símbolo de status (WELCH, 2013, p. 1301).  O uso de leques também se faz presente na mitologia chinesa e na narrativa dos Oito Imortais, um grupo formado por sete homens e uma mulher que juntos simbolizam a realização do ideal Taoísta: a imortalidade. Hàn Zhōnglí é o mais popular entre os membros deste panteão. Ele é conhecido como um ex-general da dinastia Han, que teria se tornado fugitivo após a derrota para os tibetanos durante uma expedição. Conta a lenda que Hàn Zhōnglí escapou para as montanhas, tendo mais tarde alcançado o dom da vida eterna. Sua figura é comumente retratada portando um leque de plumas, utilizado como instrumento para reviver os mortos.

Sabe-se que a produção de leques na China possui uma longa História e esta arte é altamente sofisticada, garantindo uma extensa variedade de formatos e técnicas artísticas de pintura e fabricação.  Durante os períodos que se seguiram à dinastia Han, novos métodos de produção foram desenvolvidos e novos modelos foram importados de países parceiros comerciais, como o Japão. Conta-se que os leques dobráveis chegaram em solo chinês pela primeira vez em 988 EC, trazidos por um monge japonês (QIAN, 2004, p. 12). Nos séculos seguintes, sua produção passou a ser executada e aperfeiçoada pelos chineses, assim como as produções de outros tipos de leques para os mais variados fins. Leques pintados a mão com cenas ou poemas tornaram-se estimados pela população a partir da dinastia Song (960 - 1279 EC) (WELCH, 2013, p. 1302). Devido à facilidade para manuseio e transporte, atualmente leques produzidos em papel e seda são os mais populares.

 

Considerações Finais

De origens milenares, tanto a utilização dos leques para os mais diversos propósitos, quanto a prática de dança com estes objetos, fazem parte da cultura chinesa desde a antiguidade até o presente momento e seguem resistindo à globalização. Estes aspectos são capazes de se conservar mesmo em um planeta conectado. A época atual permite um intercâmbio de saberes constante e a China é capaz de apresentar à comunidade internacional, uma parcela do rico conjunto de costumes que formam seu povo. Diante disto, é notável como a arte atua na perpetuação de uma cultura tanto material quanto imaterial e contribui para a sua divulgação. Como cita André Bueno: “a Antiguidade continua viva, e temos a oportunidade de vislumbrar as permanências dos tempos clássicos no pensamento, na cultura e nos hábitos” (BUENO, 2012, p. 59). Estas particularidades preservadas ao longo dos séculos e transmitidas entre gerações, permitem a perduração cultural de uma sociedade e preservam traços há muito tempo adquiridos, ajudando a manter de pé a identidade étnica e o orgulho de uma nação.

 

Referências

Flavia Lima Corpas é pós-graduanda do curso de História Antiga e Medieval pelo Instituto Tecnológico e Educacional de Curitiba.

BUENO, A. D. S. O Extremo Oriente na Antiguidade. Rio de Janeiro: Fundação Cecierj, v. 1, 2012.

CHANG, S.-M. L.; FREDERIKSEN, L. E. Chinese Dance in the Vast Land and Beyond. Middletown, CT: Wesleyan University Press, 2016.

DAO, Z. History of Dance in China. [S.l.]: DeepLogic, 2019.

HARDY, G.; KINNEY, A. B. The Establishment of the Han Empire and Imperial China. [S.l.]: Greenwood Press, 2005.

KEATS. The Dancing of the Han Dinasty. Keats - Learn Chinese in China, 2021. Disponivel em: <https://keatschinese.com/china-culture-resources/the-dancing-of-the-han-dynasty/>. Acesso em: 30 julho 2021.

LEWIS, M. E. The Early Chinese Empires: Qin and Han. London: The Belknap Press, 2007.

MCLAUGHLIN, R. The Romam Empire and the Silk Routes. Barnsley: Pen & Sword History, 2016.

PORTINARI, M. História da Dança. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.

QIAN, G. Chinese Fans: Artistry and Aesthetics. San Francisco: Long River Press, 2004.

TAGGART, E. Get a Handy Look at the History of Traditional Chinese Folding Fans. My Modern Met, 2020. Disponivel em: <https://mymodernmet.com/chinese-folding-fans-history/>. Acesso em: 27 julho 2021.

WELCH, P. B. Chinese Art: A Guide to Motifs and Visual Imagery. Vermont: Tuttle Publishing, 2013.

WU, W. Defining Self: Performing Chinese Identity through Dance in Belfast. eSharp, Glasgow, 24, 2016.

15 comentários:

  1. Olá! Ótimo texto, Flávia.

    Duas perguntas:
    1. Indica algum vídeo em que podemos assistir a uma dança do leque chinesa? (se puder ser a peça "Filha do Rio Amarelo", melhor ainda)
    2. Sobre sua conclusão, há alguma(s) arte(s) brasileira(s) que você acredita que cumpre o mesmo papel de continuidade cultural com as várias antiguidades que nós legamos (indígenas, africanas, europeias, asiáticas) e as culturas brasileiras contemporâneas?

    Obrigado.
    Matheus Oliva da Costa

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Matheus! Muito obrigada pelo elogio!

      1- Infelizmente ficarei te devendo o vídeo da performance da "Filha do Rio Amarelo". Porém, no artigo da autora da coreografia existem algumas fotografias da apresentação.
      Separei abaixo dois links de apresentações com leques de seda que seguem os mesmos parâmetros tradicionais.
      O primeiro utiliza uma canção mais moderna e a artista se apresenta sozinha:
      https://www.youtube.com/watch?v=wzFXwx-Ex88
      O segundo é apresentado por duas bailarinas:
      https://www.youtube.com/watch?v=BE8MWPRmdKU

      2- Quanto a sua segunda pergunta, acredito que podemos citar diversas artes brasileiras que carregam o legado de nossas ancestralidades. Duas bem significativas são as danças dos orixás no candomblé e o estabelecimento da capoeira como expressão cultural afro-brasileira.
      Abaixo segue o vídeo de um espetáculo que demonstra como a Dança dos Orixás pode ser um símbolo de representação e resistência:
      https://www.youtube.com/watch?v=OeMSiLEFIAA

      Excluir
    2. Muito obrigado, Flavia!

      Adorei todos os vídeos!
      O último, que é um pouco maior, verei em breve.

      Parabéns pelo belo trabalho. =D

      Excluir
  2. Primeiramente, parabéns pelo texto.

    Gostaria de saber se você acredita que a dança foi e continua sendo um movimento de empoderamento? Na sua opinião, seria possível quantificar?

    Grato.

    ResponderExcluir
  3. Olá Junior! Obrigada pelo comentário.
    Com certeza a dança até hoje pode ser utilizada como instrumento de empoderamento de um povo.
    Não só a dança, mas outras representações artísticas como a pintura, a escultura, a música etc.

    ResponderExcluir
  4. Flávia, atualmente não vemos muitas pessoas utilizando o leque no cotidiano, porém os travestis em seus shows e quando estão montados o utilizam, você acredita que essa apropriação veio da cultura chinesa ou burlesca?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Ralph! Obrigada pela sua questão.
      Tendo pesquisado as apresentações burlescas para outros trabalhos, acredito que os leques utilizados pelas travestis tenham partido daí.
      De toda forma, Harris(2014) menciona que os leques começaram a ser adotados em shows burlescos na primeira metade do século XX.
      Pessoalmente acredito que o Burlesco encontra grande inspiração para seus figurinos e performances na arte oriental.

      Excluir
  5. Parabéns pelo texto. ^^
    Gostaria de saber se poderia comentar o que te motivou a pesquisar esta temática? Pensando no processo de globalização, é possível identificar a incorporação de marcadores culturais externos à cultura chinesa nessa dança?
    Att.
    Jessica Caroline de Oliveira

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Jessica! Muito obrigada! :)
      Bom, o que me levou a pesquisar essa temática da dança com leques foi o fato de eu mesma praticá-la já ha algum tempo. Na verdade eu pratico a dança burlesca com leques de plumas que em termos técnicos é bem diferente da dança chinesa. Essa é uma coisa que eu não sabia antes da pesquisa hehehe
      Quanto à sua segunda pergunta, apesar de já ser praticada há mais de dois mil anos e ter surgido em uma época de intensa troca cultural entre os povos que faziam parte da rota da seda, eu acredito que essa modalidade em particular mais contribuiu culturalmente com grupos externos, do que de fato tenha absorvido elementos desses outros povos. Essa minha opinião se baseia no fato de que até hoje ela é utilizada pelos chineses como uma forma de apresentar uma parcela das suas tradições para o mundo.

      Excluir
  6. André Silva Pereira de Oliveira Ribeiro7 de outubro de 2021 às 10:35

    Flávia, muito bom o seu texto. Deixe-me perguntar, quando você diz "Han estabeleceu o início de império chinês altamente poderoso, que ao longo dos séculos foi marcado por períodos de união e desunião sob o comando de outras dinastias e se estendeu até o século XX da era comum", em sua pesquisa você se deparou com alguma presença política Han determinante na última dinastia Qing, da etnia Manchu?

    Sobre os rios, há historiadores que defendem o duplo-berço da civilização chinesa a partir dos Rios Amarelo e Yang-Tse, norte e sul, respectivamente. Daí minha pergunta, a fabricação dos leques e sua difusão na cultura está relacionada apenas às culturas do Norte da China, propriamente Han? Existe a discussão entre Norte e Sul nos leques?

    Última delas: há alguma espécie de simbolismo recorrente quanto à forma (formato) dos leques?

    Por acaso encontrei essa exposição virtual sobre leques que achei bem interessante. Talvez você já conheça. Vou deixar o link aqui:

    https://www.hisour.com/history-and-culture-of-chinese-fan-china-fan-museum-50687/

    André Ribeiro

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, André! Muito obrigada pelas perguntas, pelo elogio e pelo link! Vou dar uma olhada nele agora mesmo!

      1- Embora o enfoque da minha pesquisa seja muito mais cultural do que político, uma das fontes que utilizei toca exatamente no ponto que você mencionou.
      Para Hardy e Kinney (2005) o povo e os governantes da China ao longo da sua história se viam como uma extensão do modo de vida desenvolvido durante o império Han. Essa característica se fez presente inclusive ao longo da dinastia Qing. Quando os Qing assumiram, eles fizeram questão de estabelecer um poder que fosse imediatamente relacionado às antigas tradições chinesas.

      2- Os leques mais antigos encontrados em território chinês até o momento datam do período neolítico e foram escavados no sítio arqueológico de Qianshanyang. Esse sítio em especial contém as evidências da cultura Liangzhu, um povo que viveu justamente no delta do Yangzi.
      Então é seguro dizer que a fabricação de leques estava presente em variadas regiões do território chinês, embora sua utilização não fosse necessariamente a mesma em todos esses locais.

      3- Quanto aos formatos, depende muito da época de confecção e da finalidade do leque. Por exemplo: durante a antiguidade os abanadores de palha possuíam um formato mais arredondado; aqueles feitos de pelagem animal e serviam apenas para demonstrar status, se pareciam bastante com um espanador moderno; já os que eram carregados nas carruagens oficiais e serviam para tapar o sol lembravam muito grandes guarda-chuvas; alguns leques em formato de meia-lua eram utilizados apenas por mulheres da ricas, e por aí vai. Inclusive, estou pensando a escrever a respeito disso, acho que dá uma pesquisa bacana.
      Agora a principal diferenciação entre eles pode que pode ser percebida é na matéria-prima: Quanto mais simples o material de um leque, mais pobre era seu dono.

      Espero que eu tenha respondido suas questões de maneira satisfatória!
      :)

      Excluir
  7. Olá, Flávia. Ótimo texto!

    Em alguns programas chineses recentes de competição musical, assim como em outros quadros de manifestações artísticas, percebi que há uma mescla considerável de aspectos de uma cultura tradicional chinesa, especialmente relacionada à etnia Han, com elementos de uma cultura pop emergente (cabe aqui ressaltar que uma das performances fazia uso do leque ao som de música pop). Gostaria de perguntar se, ao seu ver, essas misturas de elementos são pensadas para o público mais jovem, com o intuito de manter a história social viva ou se as tradições são bem acolhidas por esse grupo e as fusões no meio artístico são mais como um modo de perpetuar as artes tradicionais, puramente devido ao apreço que se tem por elas, no tempo presente?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Helen! Muito obrigada! :)

      As relações culturais e étnicas de poder em solo chinês acabam por definir este conceito de dança chinesa autêntica, esta "marca da nação" que acaba por ser altamente valorizada culturalmente e apresentada em espetáculos na tv ou teatro.

      Wu (2016) comenta que as danças Han são muito utilizadas para representar a China e o conceito de "dança chinesa", principalmente fora do país.
      Isso pode se dar ao fato de que a maioria da população chinesa se identifica como Han.
      Mesmo que manifestações de dança de grupos sociais menores possam ser consideradas pela maioria mais bonitas ou populares, é na dança Han que se estabelece o conceito de "dança chinesa".

      Excluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.